Você já ouviu falar sobre odontoeducação?
A odontoeducação é um programa preventivo, que conta com a comunicação como principal ferramenta de conscientização do publico infantojuvenil sobre saúde bucal. Ou seja, educar a criança, quanto à saúde bucal atuando de forma transdisciplinar dialogando com outras disciplinas da área da saúde. Se interessou? Leia a entrevista com a idealizadora do programa, a prof. Dra. Clarice Gonzaga Barbosa.
O que é Odontoeducação?
Odontoeducação é um projeto transdisciplinar, com metodologia humanizada que visa à promoção de saúde bucal da primeira infância à adolescência. Desenvolvido de acordo com uma visão de educação continuada e atuando com atendimento em clínicas odontológicas, escolas, creches, acompanhado de amplo envolvimento familiar, para desmitificar a Comunicação violenta comumente adotada e ressignificar para uma comunicação não violenta utilizada na odontopediatria, nas escolas e pelas famílias, que não é coerente com a visão do ser humano em pleno século XXI.
Como surgiu a ideia?
Nasceu de uma inquietação da odontopediatra Clarice Gonzaga Barbosa, que quando pensou em fazer odontologia infantil, acreditava que sentir pelas crianças, compreensão, paciência, amor, respeito, bastariam para que conseguisse chegar até elas.
Durante sua graduação sentia-se incomodada enquanto aprendia de como lidar e falar com a criança sobre o que acontecia com o dentinho caso não o escovasse, o que perpetua até o presente momento. Foi quando no final de 1984, se deparou com uma criança, em sua cadeira e logicamente utilizando da linguagem que aprendeu, por não conhecer nenhuma outra, e esta criança começou a vomitar com nojo dos bichinhos que estavam sendo retirados, enfim parou o procedimento ao se dar conta que estava tudo errado… e do estrago que poderia estar fazendo na mente desta criança.
Procurou uma psicóloga em seu andar e relatou o ocorrido e esta para deixa-la ainda pior deu um artigo sobre o cérebro e a boca… ao ler, quem explodiu foi o teu cérebro e a partir dai começou a estudar, pesquisar, colher desenhos de todos os seus pacientes, em escolas de como imaginavam que acontecia a cárie e quanto mais pesquisava via que tudo ia muito mais além.
Até que em final de 1999 procurou um meio para defender o que acreditava em mestrado na Engenharia de Produção-área de Mídia e Conhecimento-UFSC, seu orientador apaixonado pelo seu projeto apresentado, a desafiou para intensificar suas pesquisas que já tinha muitos conteúdos e defender tudo em um ano e logo após ir apresenta-la na Romênia, e como Clarice Gonzaga ama desafios, aceitou e fez o seu trajeto no caminho da Engenharia do Conhecimento “pelas crianças que estão acima de tudo” em sua vida.
A importância da Odontoeducação na educação escolar?
Os conceitos adotados atualmente para justificar a importância da higiene bucal, por exemplo, são disseminados por meio da informação de que a higiene é importante para lidar com a existência de “bichinhos que comem o resto de alimentos e junto com eles os dentes”. Esta argumentação confunde e persiste pela crença de que esta é a melhor maneira de criar o hábito da higiene bucal. Para a criança, porém, “bichos”, são os insetos. Ex.: baratas, formigas, aranhas, besouros que estão no chão, que é “sujo”. O mesmo se dá com a proibição categórica de consumo de determinados alimentos, o que amedrontam e não é efetivo para a formação de hábitos na criança, mas pode se transformar num verdadeiro acúmulo de doenças psicossomática, nas palavras da pesquisadora doutora Clarice Gonzaga Barbosa, especialista no assunto em Odontoeducação, que tem atingido todas as gerações, inclusive, e lamentavelmente a primeira infância.
Com efeito e com as prerrogativas formais que possui, cabe à CNE incentivar e implantar novos conceitos e métodos de ensino, abandonando a cultura centenária quanto à maneira de se ensinar, e adotando uma linguagem mais moderna que orienta as crianças que são educadas pelas famílias de modo totalmente diferente do século passado.
Os conteúdos propostos pela Odontoeducação, estão dentro da Educação Planetária, consideram a faixa etária, e devem estar associados transversalmente às disciplinas do currículo escolar convencional, criando-se metáforas com: ciência propriamente dita, meio ambiente, ecologia, matemática, economia, segurança, drogas (cigarro e álcool), e saúde geral do corpo como por exemplo: transtornos do sono que tanto tem afetado o desenvolvimento infantil e doenças do coração devido as doenças periodontais e cárie.
Por exemplo:
“Para explicar a criança do que é “sujo” e “limpo” entra-se no Meio Ambiente e mostra um rio poluído, um chão onde se jogam lixo espalhado, quanto ao que é “sujo” e depois mostra uma boca com restos de alimento que são “limpos” e neste mesmo contexto mostra os bichinhos que ficam no lixo e que jamais poderiam estar na boca.” Percebem a diferença?
“Uma área libidinosa que é geradora de tantos prazeres não podem estar cheia de sujeira e povoadas por bichos.”
O envolvimento da Odontoeducação com a preocupação de levar uma Comunicação não violenta, vai além e, chega às cantigas de ninar que perpetuam de geração a geração, com uma conotação também de castigo e ao medo, ensinando que se a criança não dormir o “bicho papão” vem pegá-la. Exemplo: cantiga “Nana neném”, com a mesma conotação na Comunicação violenta que existe nas mídias e na odontopediatria que se não escovar os dentes o bichinho vem come-los, levando também ao castigo e ao medo.
Como podemos usar a comunicação no atendimento odontopediátricos?
A preocupação da Odontoeducação vai além da técnica na odontopediatria, precisando saber em que ambiente esta criança vive, quais as informações que recebem nas mídias. Assim sendo quando citamos Hipocrátes: “O cérebro é nosso intérprete daquelas coisas que estão no ar”, é porque nossas crianças são estes captadores… por isso cuidado com as palavras, atitudes e ações que jogamos ao vento.
E assim se vê necessário ter uma sala de aula Odontoeducativa, (o que hoje se chama de brinquedoteca), para evitar o estresse em relação ao dentista que é técnico e a criança.
Da mesma forma que o odontopediatra tem eu sua clinica, uma TSB pode ter uma estagiária de pedagogia que possa receber primeiro a criança e prepara-la por meio de recursos que nos profissionais e técnicos não temos a capacidade para tanto e assim quando esta criança passar para as outras fases na clinica tudo estará mais tranquilo.
A criança não sabe o que é uma “bactéria” antes dos seus 9 anos quando vai saber na escola aula de ciência. Me deparei muitas vezes com a mãe dizendo: meu filho sabe o que é “bactéria”, e eu pedia para a criança desenha-la e a mesma desenhava: aranhas, baratas, minhocas e até o capeta etc… A professora por utilizar os conteúdos da Odontoeducação, vai trabalhando transversalmente com outros conteúdos escolar e do dia a dia dela desmitificando, desconstruindo crenças e ressignificando e reconstruindo novas crenças, e criança vai entendo gradualmente, que sua boca não fica “suja” e nem tem “ bichinhos que comem dentes”.
Uma das vezes Dra Clarice, foi procurada por um médico que tinha medo de dentista e chegava a desmaiar na cadeira, pedindo sua ajuda já que desmitificava com criança e naqueles momentos sentia-se como a criança que existia dentro dele… ela então solicitou que ele desenhasse como ele via o processo até chegar a cárie… quando ele se deu conta do que desenhou ficou apavorado, porque tinha desenhado uma aranha bem grande e bem peluda e ele disse: “ Meu Deus, eu como médico sei o que é uma bactéria e estava totalmente desassociada da bactéria da doença cárie”. E após esta constatação, ele começou a ficar tranquilo e sem desmaiar… durante seus tratamentos odontológicos. Hoje é sua pesquisa, para um doutorado, está em cima destas consequências na vida adulta.
Quais as expectativas e planejamento para o futuro com a Odontoeducação?
A Odontoeducação mostra a necessidade de se ter no currículo Universitário da graduação em Odontologia, uma nova visão da disciplina de psicologia, acrescentando a ela conhecimento sobre o desenvolvimento e crescimento da primeira infância, como também da pedagogia que irá colaborar para que os alunos desenvolvam habilidades, atitudes e ações criativas, estimuladas por um odontoeducador. Este pode trabalhar, estimulando a aquisição de hábitos perante a saúde bucal por meio do uso dos materiais e recursos pedagógicos adequados à aprendizagem da criança de acordo com sua faixa etária quanto à saúde de uma maneira geral, sempre atuando transversalmente e interdisciplinarmente.[1]
No entanto, temos a perfeita noção da impossibilidade imediata de se promover mudanças comportamentais de crenças, convicções e hábitos culturais em uma massa tão grande de indivíduos, dispersos em um país de dimensões continentais.
As escolas e creches tornam-se o locus privilegiado da difusão dos conceitos fundamentais de um novo paradigma capaz de despertar nas novas gerações hábitos mais saudáveis, não somente em relação à saúde bucal, bem como os referentes a todo o seu organismo, funções vitais e medidas preventivas de caráter geral.